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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A CINZA DA TARDE


A cinza da tarde é uma subtileza da luz
e do seu destino de fulgências breves -
engenho de cores numa ilusão doutras cinzas
para o dia fugidio, para os seus esteios.

Esconde-se e esconde os seus trâmites,
o seu trânsito das palavras ditas,
um rosário de sons pronunciados
por lábios antigos, eruditos em fábulas
e mistérios de imaginar os seus termos.

Penetra os olhos ágeis, simula o frio do ar,
a predestinação para a bruma dos ocasos,
dissimula a hábil vocação das flores
para o caminho da noite, sem ardis.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

CIRCUNCICLO - o poema (2)

EM CONTINUAÇÃO DA ANTERIOR POSTAGEM

(...)

e que alimentam o verde das árvores
como uns olhos coando um raio de sol
uma migalha de luz
sobre o correr das águas

e se esbate sobre o limbo dum rio
fluindo dentro do nosso sangue
para filtrar a luz que habita os ares
e as palavras pronunciadas nos nossos silêncios



Pela veloz sincronia do tempo e das chuvas
chuvas de águas e pó
de vulcões ardendo no magma
interior dos nossos corpos
como um fogo emergindo das cinzas
cinza que fomos antes do fogo
anterior à ideia que temos do corpo
ou da flor do miosótis plantado na escarpa
fatal
do amor

formatados ao rochedo da montanha
no inútil esforço duma esbelta manhã
ida em montanhas para o mar
seduzidos à lama e ao barro
onde nascemos da afinidade do pó pelas águas
no seu ministério de fiar ficções
de água e pó

e que fez antigas ânforas
do esforço azul escopro de marinheiros e mitos
afundados no Egeu e em Creta
donde emergiram as nossas ficções
e alucinações

ou na longínqua noite
de ignoradas estrelas
que brilharam na infância do tempo (...)

*
CIRCUNCICLO SERÁ APRESENTADO AMANHÃ, 
dia 28 de Agosto, 
NA FEIRA DO LIVRO DE S. PAULO, NO BRASIL